domingo, outubro 29, 2006

Peppermint Candy


Não é apenas na economia que a Coréia, após investimentos maciços em educação e tecnologia, tornou-se um “tigre asiático”. O país é (ou foi, até 2005) um dos dois únicos do mundo não-comunista (o outro é a Índia) em que a produção local suplanta Hollywood em termos de público.
O cinema coreano abrange um diversificado leque de estilos e tamanhos de produção – do filme experimental independente, ao mega-blockbuster (Shiri, dirigido por Kang Je-gyu em 1999, bateu Titanic nas bilheterias locais), passando por um cinema de gênero comercialmente estabelecido e por um considerável número de diretores com visão autoral que produzem o que no Brasil se convencionou chamar de “filme de arte”. Este blog vai procurar comentar com regularidade essa cinematografia tão especial, que tem muito a oferecer ao público e aos cineastas brasileiros (incluindo, neste caso, um modelo de fianciamento da atividade que merece ser estudado com atenção).
Vamos começar nossa viagem ao cinema coreano com Peppermint Candy (Bakha Satang), dirigido em 2000 por um de seus cineastas mais talentosos, Chand-dong Lee. No caso, é particularmente apropriado falar em viagem, já que a imagem de um trem avançando pela estrada de ferro (em tomada “subjetiva”) funciona como elemento de ligação entre os sucessivos flashbacks que compõem a narrativa.
As primeiras tomadas mostram um homem de 30 e poucos anos, de terno e visivelmente bêbado, dançando e agindo de maneira descontrolada numa festa de encontro de sua turma de escola de 20 anos atrás. Ele acaba indo parar numa ponte, por onde passa a linha férrea, e, apesar das tentativas de dissuadi-lo, se suicida jogando-se contra o trem.
A partir daí, o filme conta sua história, abordando, em ordem cronológica inversa, diversos períodos de sua vida: da miserável condição em que vinha vivendo após se separar da mulher e ser traído pelo sócio ao reencontro com a ex-esposa prestes a morrer num hospital; do seu violento período como policial, que coincide com o momento em que a rotina se instala ao casamento, à crise que o leva a abandonar a profissão, a mulher e a filha; do serviço militar ao momento em que conheceu sua futura mulher, e assim sucessivamente. O final, que não revelarei para preservar o interesse, é genial, instaura uma profunda reflexão existencial, e reafirma Chand-dong Lee como um mestre da narrativa.

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