segunda-feira, outubro 30, 2006

Clássico iconoclasta japonês


Clássico cult da nouvelle vague japonesa, Funeral Parade of Roses (Bara no soretsu, Matsumoto Toshio, 1969) mistura psicanálise, Jean Genet, referências pop e sexualidades alternativas para construir uma visão arrasadoramente crítica do impasse vivido pela sociedade japonesa em seu “Maio de 1968”.

Em termos de linguagem narrativa, o filme ousa bastante: inserta imagens de filme-guia, mistura ficção e cenas documentais rodadas no centro de Tóquio, utiliza-se de artes plásticas e de comics, põe balões na boca das personagens como se elas estivessem em uma história em quadrinhos. Tais recursos instauram aquele delicioso frescor iconoclasta tão típico de algumas produções do final dos anos 60, que podemos encontrar nos primeiros filmes do Cinema Marginal Brasileiro e na música dos Mutantes, por exemplo.

À crítica à sociedade de consumo, ao marxismo ortodoxo de parte da esquerda japonesa e ao maoísmo contraproducente da outra parte, alia-se uma ênfase na questão sexual, através da tematização do homossexualismo e do travestismo (o filme vem sendo, nos últimos anos, objeto de debate acadêmico internacional nos chamados Queer Studies).

A trama, se é que podemos falar assim (já que ela é apenas um fio condutor a fazer avançar uma narrativa cujo interesse diverge para os temas tratados nos parágrafos anteriores) gira em torno do triângulo amoroso formado pelo protagonista, um crossdresser atormentado por terríveis lembranças familiares (Peter), seu amante Gureko (Furamenko Umeji), dono do Genet Bar, e a prostituta Leda (Ogasawara Osamu). O embate entre o trio, com momentos dignos de Almodóvar em preto e branco, degenera num banho de sangue com direito a harakiri, numa seqüência que, ao menos para cinéfilos brasileiros, pode remeter ao final de Hittler 3º. Mundo, rodado um ano antes do filme japonês por José Agrippino de Paula.

3 comentários:

Anônimo disse...

Legal o post Maurício. O seu blog é muito interessante, estarei de vez em quando por aqui.

urina disse...

Só o fato de ser semelhante a prática de Hitler 3º Mundo já me agrada profundamente, transgressão é perfeito, ainda mais em se tratando de cinema.

En-cruz-ilhada disse...

Olá Mauricio, gostei muito da sua iniciativa de divulgação do cinema asiatico, no momento me interessa muito a novelle vague japonesa, que conheci recentemente por Cega Obsessão, e pretendo começar a caça por outros titulos dessa galera, será que você poderia me ajudar com as legendas ou dicas, valeu....

Danilo Santos Cruz