segunda-feira, outubro 30, 2006

O Mestre de Taiwan



Um dos grandes mestres em atividade no cinema asiático, Hou Hsiao-hsien produz, desde 1980, um cinema ao mesmo tempo humanista (focado no indivíduo) e político (profundamente ligado à conturbada trajetória histórica de Taiwan).

Assumidamente influenciado pelo cinema japonês clássico - mas com uma marca autoral forte -, os filmes de Hsiao-hsien distinguem-se, do ponto de vista formal, por longos, plásticos planos, por uma cuidadosa composição, que freqüentemente produz uma dupla ou tripla divisão interna do quadro (como na foto) e por movimentos de câmera extremamente econômicos. As freqüentes cenas de jantares tornaram-se características pelo simbolismo e pela dinâmica interna, a milimetricamente controlada movimentação dos atores produzindo um ballet visual pleno de significações.

City of Sadness (Beiqing chenghi, 1989), primeira parte de uma trilogia dedicada à história taiwanesa moderna e certamente seu filme mais cultuado, é um ambicioso painel do país durante os anos de ocupação japonesa (1945-1949). Através da trajetória pessoal dos diversos membros de uma família, o filme produz um mosaico (um tanto à maneira de Novecento de Bertolucci, mas em outro registro), em que a dinâmica das relações entre personagens alude à atmosfera sócio-econômica, num filme profundamente político, mas no qual a política nunca é diretamente mencionada.

Forçado ao exílio no fim dos anos 80, Hsiao-hsien enfrenta dificuldades para obter financiamento para seus filmes em Taiwan. Mas, através de co-produções (principalmente com França e com Japão), o diretor tem conseguido, desde 1993, retomar um ritmo regular de produção, e prepara atualmente seu décimo-oitavo longa, Ballon Rouge (que não chega a ser homônimo do lúdico média metragem francês dos anos 50, já que o filme de Albert Lamorisse chama-se Le Ballon Rouge). Voltaremos a abordar nas próximas semanas, com mais detalhe, o cinema de Hsiao-hsien.

2 comentários:

Anônimo disse...

Um achado esse blog. Tenho muito interesse pelo cinema asiático, mas é difícil achar informações. Continuarei lendo.

urina disse...

Do Hsiao-hsien Hou eu assisti ao "Goodbye South, Goodbye", que eu achei um dos melhores filmes já feitos. A narrativa lenta com os planos buscando o limite é do cacete, como aqui você aponta Maurício, provavelmente é a estética autoral do diretor, não tenho como constatar que só assisti a um filme dele! Quero assistir mais filmes dele mas é de uma dificuldade tremenda para encontrar, enquanto isso visitarei direto o blog já que você mesmo confirma: Voltaremos a abordar nas próximas semanas, com mais detalhe, o cinema de Hsiao-hsien (Maravilha). Abraços!