
Produtos do ramo mais bem-sucedido do cinema indiano em termos comerciais, os filmes abrigados sob o rótulo “Bolywood”, no mais das vezes produções de grande orçamento, obedecem a um sistema industrial altamente profissionalizado. Dos roteiristas aos técnicos no estúdio, da figurinista ao diretor de arte responsável pelos multicoloridos padrões cromáticos, dos coreógrafos aos cantores que dublam os astros nos diversos números musicais, todo o sistema produtivo trabalha em série e de modo praticamente ininterrupto, a realização de um filme sucedendo a de outro.
A cereja do bolo desse esquema é, claro, o star-system indiano, já que no país, ainda mais do que em Hollywood, é o elenco – sobretudo o protagonista masculino – o principal chamariz de público para os filmes.
A atual estrela inconteste das telas indianas é o ator Shah Rukh Khan (foto), 41 anos, que sucedeu o grande ídolo dos anos 70 Amitabh Bachchan (acerca do qual publicaremos um post em breve). Essa mudança significou uma revolução nos padrões estilísticos e temáticos concernentes ao protagonista.
O título com o qual a imprensa ocidental freqüentemente se refere a Shah Rukh Khan – “O Tom Cruise indiano” – está longe de dar conta do complexo fenômeno que ele representa. Para começar, ao contrário do atorzinho hollywoodiano, ele não pertence à classe social/etnia dominante, e sim ao islamismo, identificado na Índia com as camadas mais pobres da população. O fato de ter atingido o topo do estrelato a partir dessa origem, subvertendo a tradição em um país rigidamente estratificado em termos sócio-econômicos, fez dele um modelo para vastos segmentos da juventude indiana.
Um dos traços distintivos de seu estilo de interpretação – e talvez o grande segredo de seu sucesso –, é a entonação auto-irônica com que dota suas personagens, meta-referência que acrescenta inteligência e ironia às suas performances. Embora não seja bom dançarino - requisito importante para um astro indiano – Shah Rukh Khan tem uma expressão corporal ágil e uma sensualidade natural, que, com o auxílio do humor, o permitem desvencilhar-se dos números de dança com relativa destreza.
A encarnação do galanteador maroto, brincalhão e doce como um menino, que ao se ver obrigado a "crescer" e enfrentar as adversidades revela-se possuidor de um grande caráter, tornou-se uma espécie de marca registrada dele e um de seus tipos mais marcantes, recorrentes. No últimos anos, seu talento e carisma únicos fizeram dele um fenômeno cult internacional.
Algumas de suas melhores atuações estão em papéis que, ilustrando uma dinâmica social intensificada pela globalização, representa um indiano que foi ganhar a vida no exterior, e agora volta para o país e enfrenta o choque do reencontro com suas raízes – tema de Pardes (Subhash Ghai, 1997) e do excelente We, the People (Swades, Ashutosh Gowariker, 2004). Para entender o fenômeno Bollywood é preciso decifrar o fenônemo Shah Rukh Khan.