domingo, novembro 05, 2006

Ichi the Killer


O mais cultuado dos filmes de Miike Takashi, Ichi the Killer (Koroshiya 1, 2001) é uma adaptação – menos violenta, acredite - do mangá homônimo publicado meses antes por Yamamoto Hideo (o desenhista, não o famoso diretor, que aliás participa do filme como ator). Primeira parceria de Miike com o roteirista Satô Sakichi (com quem viria a trabalhar novamente em Gozu (Gokudô kyôfu dai-gekijô: Gozu, 2003)), o filme marca, ao mesmo tempo, o paroxismo de seu estilo visual-narrativo e, ao lado de Audition (Ôdishon, 1999), sua mais elaborada e prenhe de significações criação cinematográfica.

Após a vertiginosa seqüência de abertura – câmera subjetiva de um ciclista pelas ruas de Tóquio, estabelecendo um padrão visual composto de profusão de zooms, planos-seqüência e movimentos acelerados de câmera – o filme mergulha, através de uma narrativa que constantemente avança e recua no tempo, numa trama passada no submundo de gangues e das redes de prostituição.

Através de hipnose, o chefe da yakuza Jijii (Tsukamoto Shinya) implantou memórias no inseguro e masoquista Ichi (Omori Nao) que o fazem assassinar prostitutas do bordel chefiado pela bela Karen (Sun Alien), controlado pelo ramo rival.

Kakihara (Asano Tadanobu, num dos papéis decisivos para sua projeção internacional), um japonês albino que usa um piercing-alfinete em cada canto da boca e tem o rosto coberto de cicatrizes, é um membro da tal ala rival, disposto a vingar a morte de seu chefe, Anjo, que é assassinado ao lado da primeira vítima. A personagem de Asano é introduzida na narrativa, em flashforward, na casa em que ocoreu a matança (encenada com o grafismo típico de Miike, teto respingando sangue, tripas ainda “vivas” se contorcendo pelo chão...).

Na seqüência mais famosa do filme, ele tortura outro membro da organização - que é mantido suspenso por ganchos que perfuram a pele das costas - utilizando-se de agulhas espetadas no rosto e de óleo fervendo... Com as demais cenas de tortura, o sadismo com que são tratadas as prostitutas e as sequências da morte delas – um corte profundo no pescoço que provoca esguichos de sangue -, o filme resulta num espetáculo cinematogáfico de difícil digestão para públicos mais sensíveis.

A trama é freqüentemente mediada por aparatos de vigilância, como circuitos internos de segurança - cujas imagens são “reproduzidas” através de vídeo de baixa definição -, e perpassada por um elaborado desenho de som, em que se destaca a trilha sonora, formada por uma percussão hipnótica acrescida de vocais e por eventuais incursões ao pop/rock japonês.

O filme remete, assim, ao crescente controle social exercido pela tecnologia, e prefigura nosso atual presente histórico, com a tortura incorporada à temática cotidiana (e, a que ponto chegamos, método de interrogatório aprovado em parlamentos de países ditos democráticos). No entanto, enganam-se os que pensam que Miike, através de seu aparente amoralismo, apologiza ou endossa a violência. Ao contrário: a exemplo de Nelson Rodrigues - sempre atacado pela alegada permissividade de suas peças -, o diretor japonês, como vem seguidamente demonstrando sua obra, é um moralista, perplexo ante a conteporaneidade e saudoso de um passado idílico (ver a série DOA). Isso é evidenciado, no filme, pelo fato de que, ao final, o único sobrevivente é o menino Takeshi, testemunha perplexa de toda a sanguinolência e herdeiro daquele presente desesperançado.

5 comentários:

Cinecasulófilo disse...

bacana o blog. sucesso.

Anônimo disse...

Muito massa o blog!!!

Luiz Alexandre disse...

Po, tenhoq terminar de ver5 esse filme (e confessoq me arrependo um puco de ter ldi até o fim...). Belo texto, muito bom mesmo.

Luiz Alexandre disse...

E vem cá, tu tá de sacanagem q aliviaram no filme?

Luiz Alexandre disse...

Bom, boatos são assim mesmo, heheheh. Bom, de qualuqer forma tenho q ver o filme. E se tiver um versão do diretor tentarei ver tb!